As cotas da BP tiveram um grande salto, alcançando o maior avanço desde 2020, depois que um dos investidores ativistas mais combativos do planeta ampliou sua fatia na companhia, tentando reverter anos de resultados abaixo do previsto ao exigir transformações relevantes.
A Elliott Investment Management, sob a liderança de Paul Singer, adquiriu uma parcela expressiva na colossus britânica do setor energético, conforme divulgado pela Bloomberg no sábado (8). Esse movimento costuma ser o estágio inicial de uma estratégia que a Elliott já aplicou com êxito em diversas outras corporações de grande porte. Com o passar dos anos, as iniciativas do fundo levaram a ajustes estratégicos, trocas de CEOs e até mesmo a divisões empresariais.
“Achamos que qualquer ativista pediria uma mudança na presidência, no mínimo”, disse o analista da RBC Europe, Biraj Borkhataria. A BP também poderia ser instada a vender ativos de baixo carbono e focar no aumento da produção de petróleo e gás, afirmaram analistas da Jefferies em uma nota.
Os papéis da companhia avançaram até 8,2% e mantinham um ganho de 6,6%, sendo cotados a 461,7 pence às 11h nas transações em Londres.
A ação da Elliott surge após a BP enfrentar uma sequência de equívocos nos últimos 15 anos, desde a catástrofe da Deepwater Horizon até a saída abrupta do ex-CEO Bernard Looney em razão de sua conduta pessoal. Desde a decisão errônea em 2020, ao supor que o consumo global de petróleo havia alcançado seu ápice e que o planeta caminhava rapidamente para emissões líquidas zero, a valorização da companhia ficou atrás de outras gigantes do setor.
Algumas dessas concorrentes têm estudado como poderia se configurar uma eventual aquisição, conforme fontes com conhecimento do tema. Não está definido se alguma delas considera seriamente um movimento nesse sentido, mas o fato de tais discussões estarem em andamento revela o quão significativamente a gigante sediada em Londres perdeu terreno.
Nos últimos cinco anos, os papéis da BP recuaram quase 8%, enquanto seus concorrentes mais diretos, Shell e TotalEnergies, registraram uma valorização de aproximadamente um terço.
A Elliott pretende elevar o retorno para os acionistas ao instigar a BP a avaliar iniciativas transformadoras, segundo fontes com conhecimento do assunto, que solicitaram anonimato por se tratar de discussões sigilosas. A percepção é de que a empresa está consideravelmente subvalorizada e seu desempenho tem sido insatisfatório, afirmaram.
Representantes do investidor ativista optaram por não se pronunciar, e a dimensão exata de sua participação não pôde ser imediatamente verificada. No entanto, seu histórico sugere o nível de pressão que poderá ser exercido sobre o atual CEO da BP, Murray Auchincloss.
O canadense de 54 anos assumiu o comando da BP após a saída repentina de Looney, ocupando inicialmente o cargo de forma interina em setembro de 2023 e sendo efetivado em janeiro de 2024.
Desde então, o ex-diretor financeiro tem adotado uma postura reservada, implementando ajustes internos na companhia, mas se pronunciando pouco em público. Ele vem, aos poucos, revertendo a estratégia de Looney sobre petróleo, garantindo acesso a algumas das maiores jazidas de petróleo bruto no Oriente Médio, desfazendo-se de ativos ligados à energia renovável e, mais recentemente, anunciando a demissão de cerca de 5% do quadro fixo de funcionários.
Essas ações, no entanto, não convenceram totalmente parte dos analistas e investidores, que enxergam a oportunidade de redefinir o rumo da empresa se reduzindo. A atualização da estratégia, prevista para este mês, é considerada um ponto decisivo para Auchincloss, e a situação se tornou ainda mais delicada com o adiamento do evento por duas semanas, para 26 de fevereiro, além da mudança de local de Nova York para Londres, permitindo que o CEO se recuperasse de um procedimento médico não revelado.
Revisão da Estratégia
A Elliott pode pressionar a BP em cinco áreas principais, conforme apontado pelo analista da Jefferies, Giacomo Romeo. Entre elas estão um novo direcionamento para petróleo e gás convencionais, deixando de lado iniciativas de baixo carbono, a venda de ativos com potencial para atrair avaliações mais elevadas, como infraestrutura e operações de varejo, a maximização do fluxo de caixa livre com cortes nos investimentos de capital e a aceleração do ritmo de desinvestimentos. Além disso, o investidor ativista pode defender mudanças na liderança e no conselho, incluindo a substituição do presidente da BP.
Espera-se que Auchincloss já direcione maior atenção ao núcleo do negócio de petróleo e gás, reduzindo o foco em energia renovável. No entanto, há incertezas sobre a capacidade da BP de executar essa transição rapidamente e se os investidores ainda estão dispostos a aguardar.
A Elliott, por outro lado, não costuma adotar uma postura passiva, e o fundo dispõe de diversos mecanismos para acelerar as mudanças dentro da companhia.
A composição da equipe executiva e do conselho da BP permaneceu praticamente inalterada desde a gestão de Looney, o que pode torná-la um alvo para a Elliott. O presidente Helge Lund é reconhecido como um dos idealizadores da estratégia de emissões líquidas zero da companhia, juntamente com o ex-CEO.
Em outras corporações, a Elliott já conseguiu, com sucesso, impulsionar desmembramentos. No caso da BP, uma empresa de grande porte, há várias possibilidades, mas seu segmento principal de petróleo e gás opera com cadeias de valor altamente interligadas — abrangendo desde a extração até refinarias e redes de distribuição, conectadas por uma estrutura global de comercialização — o que tornaria essa fragmentação mais desafiadora.
A separação mais evidente seria entre energia renovável e combustíveis fósseis, uma mudança que já começou a ser implementada sob a liderança de Auchincloss. Ele anunciou a divisão das operações de energia eólica offshore em uma joint venture e está conduzindo o processo de venda dos ativos de energia eólica onshore.
A BP ainda mantém controle total sobre a Lightsource, uma unidade voltada para energia solar e armazenamento de baterias. A empresa classificou essa divisão como um “motor para energia renovável onshore”, ao lado dos mesmos parques eólicos terrestres que agora busca vender nos EUA.
Além disso, a companhia opera uma unidade de recarga para veículos elétricos, com ambições de crescimento nos EUA após a aquisição da TravelCenters of America por US$ 1,3 bilhão em 2023, sob a gestão de Looney. Atualmente, a BP possui 37.500 carregadores instalados globalmente e pretende superar a marca de 100 mil até 2030.
Ainda não está claro qual será a abordagem da Elliott, mas a primeira oportunidade para o investidor ativista influenciar a empresa pode estar muito próxima.
A BP divulgará seus resultados financeiros do quarto trimestre na terça-feira, já tendo antecipado um desempenho fraco em diversas áreas. Outras gigantes do setor enfrentaram um cenário de mercado semelhante, mas, devido à fragilidade de sua estrutura financeira, a BP pode ser forçada a reduzir o ritmo de recompras de ações, um mecanismo essencial para manter a confiança dos investidores nos últimos anos.
Uma ação mais expressiva para atrair investidores poderia ser transferir a listagem da empresa para Nova York, algo que a Elliott pode incentivar, conforme análise da Bloomberg Intelligence. Gigantes mais valorizadas, como Exxon Mobil Corp. e Chevron Corp., estão listadas lá, e a concorrente europeia TotalEnergies já considerou essa possibilidade no passado.
“Em um múltiplo de lucros futuros, a BP é negociada um terço abaixo da Exxon e da Chevron”, afirmou o analista da Bloomberg Intelligence, Will Hares.
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