O governo de Donald Trump deportou um total de 111 brasileiros no voo que chega ao Brasil nesta sexta-feira, dia 7. Esse número supera o contingente anterior. Em janeiro, um voo com 88 cidadãos brasileiros removidos dos Estados Unidos gerou uma crise diplomática entre os dois países.
A aeronave, fretada pelo governo norte-americano, decolou na madrugada, às 2h, da cidade de Alexandria, Louisiana, e fez uma parada técnica pela manhã em Aguadilla, Porto Rico. O avião decolou novamente por volta das 10h, seguindo diretamente para Fortaleza (CE).
O pouso do Airbus A320 da GlobalX, de prefixo N276GX, está previsto para ocorrer por volta das 16h, no Aeroporto Internacional de Fortaleza.
Depois dos trâmites de imigração e recepção por parte do governo federal, uma outra aeronave da Força Aérea Brasileira transportará, de forma excepcional, os deportados até o Aeroporto Internacional de Confins, em Minas Gerais – destino habitual desses voos desde 2018.
O governo brasileiro e representantes dos EUA no Brasil acompanham em tempo real esse trajeto aéreo. Pela primeira vez, como um teste, o voo com os deportados foi direcionado ao Ceará, devido à localização geográfica mais próxima dos EUA, com o objetivo de reduzir a operação.
Representantes de ambos os países irão analisar posteriormente esse formato de operação com chegada no Ceará. Inicialmente, o governo federal não planeja manter uma rota da FAB até Confins para os próximos voos e descarta a ideia de resgatá-los com aeronave militar em território americano, como algumas nações já anunciaram e implementaram.
O governo brasileiro solicitou ajustes na operação aérea e realiza preparativos devido ao endurecimento da política migratória de Trump, que prevê deportações em larga escala. Os EUA registram aproximadamente 38 mil brasileiros com ordem final de deportação. Esses indivíduos não têm mais direito a apelação.
A nova rota Louisiana-Porto Rico-Ceará foi implementada. Os voos sofreram modificações logísticas recomendadas pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva para reduzir o período em que os deportados permanecem sob a condição de estarem algemados e com os pés acorrentados.
Embora essa prática seja padrão para as autoridades americanas, no primeiro voo sob a gestão Trump, ocorrido em 24 de janeiro, houve diversos problemas e tumultos na aeronave, que apresentava falhas no sistema de ar-condicionado e realizou paradas no Panamá e em Manaus (AM).
O governo manifestou protesto contra o uso indiscriminado de algemas e correntes nos passageiros, inclusive dentro do território brasileiro, além de reclamar sobre relatos de maus-tratos e agressões cometidas por agentes de segurança dos EUA.
Desde então, o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA em Brasília, Gabriel Escobar, participou de pelo menos três reuniões – duas no Itamaraty e uma no Palácio do Planalto. Ele é o atual chefe do posto.
Em uma das reuniões, Escobar expressou pesar pelos problemas no voo de janeiro, o que foi interpretado como um pedido de desculpas, de acordo com testemunhas do encontro ouvidas pelo Estadão. O incidente foi mantido em sigilo.
Relação discreta
O Itamaraty busca uma relação reservada e pragmática que preserve a cooperação, apesar das divergências nos métodos. Por parte da embaixada, há preocupação com as novas diretrizes da gestão Trump e receio de que Washington possa reagir negativamente.
As alterações foram acordadas ao longo desta semana, em reuniões do grupo de trabalho responsável pelos voos de deportação. Estiveram presentes autoridades do Itamaraty, do Ministério da Justiça e Segurança Pública e da Polícia Federal, representando o Brasil. Pelo lado dos EUA, participaram integrantes da Embaixada em Brasília e do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês).
O governo Lula pretende reduzir ao máximo a duração dos voos e ressaltou que não aceitará que os deportados permaneçam algemados e acorrentados após o pouso no destino final, em território brasileiro. Embora o espaço aéreo do País também esteja sob jurisdição nacional, a diplomacia reconhece que a decisão final sobre medidas de segurança a bordo durante o sobrevoo cabe ao comandante da aeronave americana.
O primeiro grupo de brasileiros deportados dos EUA sob a gestão Trump desembarcou no aeroporto de Confins (MG) no dia 25 de janeiro.
O primeiro grupo de brasileiros deportados dos EUA sob a gestão Trump desembarcou no aeroporto de Confins (MG) no dia 25 de janeiro. Foto: FAB/Reprodução
O governo também tem solicitado que a lista de passageiros seja repassada pelo ICE com maior antecedência, permitindo que a Polícia Federal realize as verificações necessárias. Além disso, começou a acompanhar o embarque presencialmente, nesta sexta-feira, por meio de um diplomata do Consulado-Geral do Brasil em Houston, no Texas.
O Brasil passou a aceitar o retorno dos deportados sob regras negociadas diplomaticamente em 2018 e 2021, evitando que permanecessem detidos por mais tempo nos EUA, sem possibilidade de reverter o processo e permanecer no país.
O governo Lula classifica a operação como uma “repatriação” e organizou um esquema de recepção e assistência, com apoio do governo cearense. Os deportados serão acolhidos em postos de atendimento humanizado, em Fortaleza e Confins, onde terão acesso a assistência social, internet, carregadores de celular para contato com familiares, além de orientações sobre saúde e inserção no mercado de trabalho.